Víbora azul homenageia Rita Lee

Víbora azul homenageia Rita Lee

São Paulo, 01 de abril de 2024

2,8 Minuto.

A ligação de Rita Lee (1947-2023) com as cobras rendeu momentos icônicos na sua carreira. Um deles foi o resgate de duas jiboias do show de Alice Cooper em São Paulo em 1974. A cantora não curtiu a ideia de ver o roqueiro maltratando as serpentes e as levou embora do backstage.

O outro é quando Rita se vestiu de naja para cantar um de seus maiores hits: Erva Venenosa. A música faz referência à personagem dos quadrinhos Poison Ivy, que “é pior do que cobra cascavel, seu veneno é cruel-uel-uel-uel”.

Um dos planos da anti-heroína da DC Comics é devolver a Terra à sua fauna e flora originais. Uma mensagem que refletia o amor da rainha do rock brasileiro pelos animais e pela natureza e sua ira contra seus maus-tratos.

Em 14 de junho de 2023, pouco mais de um mês depois do falecimento da estrela, em 8 de maio, chegava ao Museu Biológico do Instituto Butantã a verdadeira venenosa: a víbora-dos-lábios-brancos, de cor azul mar e grande beleza.

A pequena Trimeresurus insularis tem 65 centímetros e pouco mais de 60 gramas. Seus olhos vermelhos, tais quais as madeixas que a cantora cultivou por anos, lhes dão um ar agressivo. Mas seus movimentos calmos e precisos mostram que ela não é nenhuma Ovelha Negra. Porém, engana-se quem pensa que ela não dá o bote ao se sentir ameaçada. À espreita de presas, ela se transforma em doce vampiro. Por isso não provoque!

Víbora azul homenageia Rita Lee
Bela e perigosa, a cobra azul não ocorre no Brasil. Mas, tem uma casa no Butantã. (Img. cedida)

A ocorrência da cor azul entre as víboras-de-lábios-brancos é considerada incomum, já que a maioria delas é esverdeada. “Esse padrão ocorre somente em algumas ilhas da Indonésia e se trata de um polimorfismo de cor, ou seja, quando espécies sofrem variações de cor, tamanho ou comportamento por questões ambientais e evolutivas, explica o biólogo e herpetólogo do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantã Francisco Luís Franco.

Mas, afinal, a víbora-dos-lábios-brancos é realmente cruel e pior que uma cascavel? “O veneno da Trimeresurus insularis tem ação local, mais parecido com o das jararacas. A picada causa necrose, mas não tem efeito neurotóxico, que afeta o sistema nervoso, como o veneno da cascavel”, diz Silvia Cardoso, bióloga responsável pela criação do habitat onde a serpente foi instalada.

Apesar disso, este tipo de envenenamento pode causar grandes danos à saúde. Então, todo o cuidado é pouco. “O veneno dela é hemolítico, e por isso destrói as hemácias do sangue, causando hemorragias. É também proteolítico, que causa necrose do tecido, corroendo a pele. Este veneno pode ser cruel sim”, explica Carlos Jared, pesquisador científico e diretor do laboratório de Biologia Estrutural.

Outro problema que envolve acidentes com a serpente é que o soro contra este veneno não está disponível no Brasil, já que a espécie é exótica. O Butantã, maior produtor de soros antivenenos da América Latina, produz imunizantes contra venenos de espécies que ocorrem no Brasil. E somente tem ampolas de soro disponíveis contra o veneno da víbora por ter um exemplar da espécie no museu.

“É uma grande irresponsabilidade trazer estas serpentes dessa forma, sem qualquer cuidado com o animal e com risco de ocorrer acidentes sem o devido antiveneno disponível”, pondera Silvia.

Mas qual a verdadeira relação da Santa Rita de Sampa, a protetora dos animais abatidos, com a serpente do Butantã?

“Essa serpente é a nossa ‘ovelha azul’, por que ela é muito diferente, assim como a Rita, que foi inovadora nas ideias, na música e na conservação do meio ambiente através de seus livros. Quisemos fazer essa homenagem pela influência tão importante dela na nossa cultura, especialmente para as mulheres, e para incentivar as meninas a se interessarem mais por ciência”, diz a pesquisadora e diretora do Museu Biológico do Butantã Erika Hingst-Zaher.

Agora só falta você ir visitá-la no Museu Biológico, localizado no Parque da Ciência Butantan.

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