Era uma vez um Supercondutor! A Ciência e a Propaganda se unem quando a missão não é apenas promover um bem à sociedade, mas atender ao mercado. Ah! O sistema!
Rio de Janeiro – RJ – 26de Agosto de 2023.
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Daniel Guimaraes Tedesco
Uma das coisas que gostamos na Física são as descobertas maravilhosas! Em um belo dia começo a receber de amigos um artigo lançado em uma plataforma velha conhecida dos físicos (Arxiv.org) que recebe artigos que não passaram por avaliação com um resultado incrível: o material sul-coreano LK-99, que alegava possuir a capacidade de supercondutividade em temperatura ambiente.
Só para termos uma ideia do quanto essa descoberta seria incrível, se fosse real: A supercondutividade é um fenômeno caracterizado pelo fluxo de corrente elétrica, através de um material sem resistência elétrica. Isso ocorre a temperaturas extremamente baixas, próximas do zero absoluto, onde os elétrons formam pares de Cooper e podem se mover, através do material, sem sofrer perda de energia, devido à resistência. Esse comportamento notável tem inúmeras aplicações potenciais!
Se um supercondutor à temperatura ambiente pudesse ser usado à pressão atmosférica, ele poderia economizar grandes quantidades de energia perdidas para a resistência na rede elétrica. Além disso, poderia melhorar as tecnologias atuais, desde máquinas de ressonância magnética, dispositivos de fusão nuclear até computadores quânticos e trens magneticamente levitados (os famosos maglevs). Infelizmente, ainda não descobrimos mais um “Santo Graal” da Física!
Nem cobre nem alumínio, nem ouro ou prata
Tudo começou quando cientistas da Coreia do Sul anunciaram que haviam criado um material especial, o LK-99. No dia 22 de julho, pesquisadores sul-coreanos divulgaram um estudo no qual afirmaram ter encontrado o comportamento supercondutor a uma temperatura de 30 graus Celsius. Isso gerou uma busca global pela reprodução do material e pela realização de testes para verificar suas propriedades, mas até o dia da escrita deste texto, nenhum pesquisador conseguiu reproduzir os resultados obtidos.
Como a ciência caminha com a modernidade, o Centro de Matéria Condensada (CMTC) da Universidade de Maryland, nos EUA, disse no Twitter, no dia 08 de agosto, que os testes feitos com o material chamado LK-99 não confirmaram sua habilidade de ser um supercondutor: “Com muita tristeza, agora acreditamos que o jogo acabou. O LK99 não é um supercondutor (…) um material de qualidade muito baixa e altamente resistivo. Ponto final! Não vale a pena lutar contra a verdade.
Os dados falaram”. Além disso, o centro de pesquisa apontou que estudos realizados por cientistas em diferentes lugares, como China, Índia e Taiwan, sugerem que as alegações sobre o LK-99 ser um supercondutor revolucionário podem não ser verdadeiras.
Ainda correndo atrás
Essa decepção recente sobre o LK-99 nos revela como é importante a verificação cuidadosa, incluso aqui não só nas ciências! Quando existe a empolgação com algo novo ou uma informação que nos inquieta, é fundamental fazer análises detalhadas e testes diferentes para se ter a certeza de que as conclusões são realmente sólidas. Mesmo que o LK-99 não tenha funcionado como esperávamos, a pesquisa por novos materiais é uma das mais aquecidas no mundo.
Embora o LK-99 não tenha se revelado conforme esperado, a pesquisa por novos materiais permanece como uma das áreas de maior atenção em escala global. A compreensão da supercondutividade em temperaturas mais altas, ainda é um desafio, que nos incentiva a continuar explorando novas ideias. Mas eu confesso que a notícia me entristece pela minha curiosidade sobre o que viria a seguir…
Daniel Guimarães Tedesco – Doutor em Física pela UERJ. Professor Centro Universitário Internacional UNINTER
