Equipes da UFPA e do laboratório LAMA usam genética de ponta para reflorestar a maior faixa contínua de manguezal do mundo.
Redação

São Paulo, Junho de 2025
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Mapear a variabilidade genética, identificando diferentes versões de um gene dentro de uma espécie de planta nativa. Esta é a nova arma da ciência para a conservação e uso sustentável dos manguezais da Amazônia. Na região, que se destaca por abrigar a maior faixa contínua desse ecossistema no mundo, a tecnologia começou a ser aplicada de forma inédita.
Atuando em iniciativas de reflorestamento de áreas degradadas, com participação de comunidades locais que dependem dos recursos naturais como meio de sustento.
“Quanto maior a variabilidade genética das plantas de uma mesma espécie, maior a capacidade de adaptação e de sobrevivência diante de alterações ambientais, como os impactos climáticos”, afirma Marcus Fernandes, coordenador do Laboratório de Ecologia de Manguezal (LAMA), da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Bragança (PA).
Por meio do mapeamento, as sementes que se destinam à recuperação do ecossistema – antes coletadas de forma aleatória em praias e manguezais, sem distinção de qualidade – passaram a ser selecionadas conforme as áreas. Na verdade, àquelas que concentram uma maior diversidade genética. Assim, têm mais chances de resultar em novas gerações de árvores mais produtivas e resilientes. Saber onde se localizam as melhores plantas – diz Fernandes – é um conhecimento estratégico ao manejo mais eficiente das florestas de mangue. Isso produz reflexos positivos no estoque de carbono e na fauna – por exemplo, do caranguejo-uçá.
Ação Coletiva de impacto ambiental positivo
Com a nova ferramenta, muito além de quantidades, é possível trabalhar as qualidades impressas pelas características genéticas das plantas. “O método permite melhores resultados do reflorestamento. Assim, reduzimos perdas e proporcionando mais benefícios”, completa Fernandes. Ele, também é o coordenador do projeto Mangues da Amazônia, realizado pelo Instituto Peabiru, Associação Sarambuí e o Laboratório de Ecologia de Manguezal – LAMA/UFPA.
Juntos trabalham visando à conservação e uso sustentável desse ecossistema, a iniciativa conta desde 2021. O patrocínio da Petrobras e do Governo Federal através do Programa Petrobras Socioambiental, beneficia direta e indiretamente de cerca de 15 mil pessoas nos municípios paraenses de Tracuateua, Bragança, Augusto Corrêa e Viseu.
Entre as ações socioambientais, o projeto reflorestou até agora 18 hectares de áreas de manguezais degradados nesses municípios. As ações envolvem a mobilização comunitária. Além da aplicação de metodologias científicas e a integração de conhecimentos tradicionais. A meta é atingir o total de 40 ha. reflorestados e 100 hectares monitorados na região do entorno, nos próximos anos. Todas alinhadas ao Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), com impacto positivo sobre o sequestro de carbono e a proteção das zonas costeiras e populações locais.
“O plantio de áreas degradadas é um gesto de sensibilização e conexão com a natureza. Em que cada hectare recuperado mostra que é possível repor o que foi perdido e desperta a percepção de que a conservação é um dever coletivo”. Quem observa é John Gomes, gerente do projeto Mangues da Amazônia.

Tempo de trabalho e de recuperação de tesouros naturais
Em ano especial de COP 30, em Belém, o trabalho de reflorestamento dá visibilidade aos manguezais amazônicos pela importância no enfrentamento às mudanças climáticas do planeta. Cientistas estimam que os manguezais da região produzem duas a três vezes mais carbono do que as florestas de terra firme. Além disso, o grau de diversidade genética – junto a outros fatores – é visto como diferencial-chave neste cenário.
“Estamos na fronteira da ciência no uso da genética como uma ferramenta essencial à conservação de manguezais”, reforça o biólogo Adam Bessa,. Ele é o pesquisador do projeto Mangues da Amazônia à frente do mapeamento. Na metodologia adotada, os pesquisadores do projeto utilizam 1 hectare de floresta de mangue dentro de cada um dos 12 quadrantes. A península de Ajuruteua (Bragança – PA) foi dividida como base para a coleta de folhas das espécies Rhizophora mangle (mangue-vermelho), Avicennia germinans (mangue-preto) e Laguncularia racemosa (mangue-branco). O material é analisado em laboratório, por meio da extração do DNA, para a identificação das amostras que apresentam maior variação de genes e suas áreas de origem.
Atualmente a equipe do projeto realiza a coleta de amostras em campo para que os primeiros dados sobre a variabilidade genética sejam obtidos ao longo de 2025. “O objetivo é oferecer referencial para ajudar as plantas na superação de condições ambientais adversas e outros impactos a que estão expostas, no reflorestamento” diz Bessa. Além de subsidiar a proteção de áreas naturais como bancos de sementes, o trabalho dá suporte ao planejamento de corredores ecológicos que conectam fragmentos de vegetação nativa.
“Restaurar não é só plantar árvores, mas trazer a estrutura biológica de volta”, enfatiza o biólogo.
Sobre o Projeto Mangues da Amazônia
O Mangues da Amazônia é um projeto socioambiental com foco na recuperação e conservação de manguezais, educação ambiental e atividades socioculturais em Reservas Extrativistas Marinhas do estado do Pará. Há 5 anos atuando nas RESEX Marinhas de Augusto Corrêa, Bragança, Tracuateua e Viseu.
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