Supermercados Ingleses - Não ao Brasil!

Supermercados Ingleses – Não ao Brasil!

Supermercados do Reino Unido instados a remover pesticidas assassinos de suas cadeias de suprimentos de soja ligadas a envenenamentos em massa na Amazônia.

Monica Piccinini

Londres, 28 de abril de 2022.

2 Minutos

A demanda por alimentos dos consumidores britânicos está alimentando o envenenamento de pessoas e animais selvagens na Amazônia em um “escândalo oculto”, segundo a Soil Association.

O frango vendido em vários supermercados do Reino Unido é criado com ração de soja cultivada em terras repletas de pesticidas tóxicos na região amazônica do Brasil, destaca a nova campanha Stop Poison Poultry” da Soil Association.

Foi divulgada a petição pedindo ação, na qual a Conselheira de Campanhas da Soil Association, Cathy Cliff, disse: “Os compradores britânicos devem poder entrar em um supermercado e comprar alimentos que não prejudiquem crianças e adultos, matem abelhas ou ameacem a vida selvagem rara e preciosa a milhares de quilômetros de distância“, referindo-se aos produtos que vem do Brasil e das áreas degradadas da Amazônia

De acordo com uma pesquisa da Soil Association realizada em janeiro de 2022, nenhum dos 10 maiores supermercados do Reino Unido está monitorando ou restringindo o uso de pesticidas altamente perigosos em suas cadeias de suprimentos de soja.  A soja ligada a intoxicações por pesticidas no Brasil é exportada para o Reino Unido para alimentar o gado, principalmente galinhas.

Nossa pesquisa descobriu que os 10 maiores supermercados do Reino Unido estão todos presos em um sistema quebrado que está danificando comunidades, animais e ecossistemas. Os varejistas britânicos já estão dando bons passos para combater o desmatamento em suas cadeias de fornecimento de soja, e agora precisamos deles para lidar com esses pesticidas perigosos”, disse Cathy.

Supermercados Ingleses - Não ao Brasil!
Aplicação de pesticidas no Brasil em altas doses que são proibidos em outros países . (Img Web)

A escala do uso de agrotóxicos altamente perigosos no Brasil é aterrorizante, assim como a dependência da nossa indústria de frangos dessas culturas de soja. É um escândalo oculto que tanto os compradores quanto os agricultores britânicos estão cegos, e não deve continuar – devemos parar o envenenamento associado à avicultura do Reino Unido”, acrescentou Cathy.

O Brasil é o terceiro maior usuário de agrotóxicos do mundo, atrás apenas da China e dos EUA. E o governo do presidente Jair Bolsonaro incorporou recentemente um decreto presidencial que altera a lei de agrotóxicos de 1989, tornando o processo de aprovação de agrotóxicos ainda mais flexível, incluindo a aprovação de produtos químicos que já foram proibidos em diversos outros países.

A maioria dos pesticidas usados ​​na soja brasileira são proibidos para uso no Reino Unido, mas alguns estão sendo produzidos e vendidos no exterior por empresas que operam na Grã-Bretanha e Europa.

Um exemplo é o paraquat pesticida altamente perigoso, que é fabricado pela chinesa Syngenta, de propriedade da ChemChina, em Huddersfield, proibido para uso no Reino Unido e associado a vários envenenamentos no exterior.

Recentemente, a Landworkers’ Alliance (LWA), representante dos agricultores de pequeno porte e ecológicos, exigiu que o governo do Reino Unido interrompa a exportação de paraquat e outros pesticidas que são proibidos para uso no Reino Unido, mas ainda fabricados aqui.

Brasil, Soja e Pesticidas

A região amazônica vem sofrendo com o desmatamento devido a muitas políticas oficiais, com grandes áreas naturais substituídas por monoculturas com disseminação indiscriminada de agrotóxicos. O cultivo de soja é um dos principais impulsionadores do desmatamento na bacia amazônica, com 80% do produzido sendo destinados à alimentação animal, fora e dentro do país.

A soja é o maior produto de exportação do Brasil para o Reino Unido, no valor de aproximadamente US$ 220 milhões em 2020; essas culturas correspondem por 60% do uso de pesticidas do país. O uso de pesticidas no Brasil aumentou para impressionantes 900% desde 1990.

Pesquisas confirmam que esses produtos químicos contaminam as águas superficiais e subterrâneas, o solo, mata abelhas, insetos e os animais que comem esses insetos; um coquetel de produtos químicos foram encontrados em seus corpos. Entre 2013 e 2017, mais de 1 bilhão de abelhas foram perdidas devido ao envenenamento por agrotóxicos no Brasil, incluindo abelhas melíferas e selvagens.

De acordo com a ABRASCO, Associação Brasileira de Saúde Pública, 70.000 pessoas, incluindo crianças, que geralmente são as mais severamente afetadas, sofrem intoxicações agudas e crônicas por agrotóxicos no Brasil, todos os anos.

Existem 150 produtos agrotóxicos aprovados pelo governo brasileiro para uso na soja. Dos 22 mais usados ​​na produção brasileira de soja, 80% são classificados como ‘altamente perigosos’, e destes 66% não são aprovados para uso na UE ou Reino Unido, incluindo os que seguem:

Paraquat, um herbicida que é “fatal se inalado”, associado a suicídios de agricultores e exportado pela Syngenta, uma empresa que opera na Grã-Bretanha;

Acefato, um inseticida organofosforado (OP) usado em culturas alimentares, bem como um tratamento de sementes. É conhecido por ser “altamente tóxico para as abelhas”;

Clorpirifós (CPF), um organofosforado clorado de amplo espectro (OP), conhecido por ser “altamente tóxico para abelhas” e “provavelmente cancerígeno para humanos”;

Diuron, um herbicida “provavelmente cancerígeno para humanos em altas doses”;

Imadacloprid, um inseticida conhecido por ser “altamente tóxico para as abelhas”.

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva estima que os agrotóxicos contaminam aproximadamente 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros, que consomem cerca de 7,5 L de agrotóxicos por ano – a maior taxa de consumo per capita do mundo.

De acordo com um estudo recente publicado pelo MDPI, Multidisciplinary Digital Publishing Institute, são inúmeros os efeitos tóxicos dos agrotóxicos, principalmente infligindo trabalhadores rurais, induzindo a partir de anormalidades hematológicas, danos ao DNA, morte celular, irritações de pele e olhos, dor, infertilidade, níveis hormonais alterados, fadiga, tremores, perda auditiva, sintomas neurológicos, aborto espontâneo, malformação fetal, efeitos nas doenças cardíacas, musculares e no desenvolvimento de doenças metabólicas relacionadas ao excesso de peso, baixo peso, resistência à insulina, diabetes e vários tipos de câncer.

Supermercados Ingleses - Não ao Brasil!
Fonte: MDPI – Impactos dos Agrotóxicos na Saúde Humana nos Últimos Seis Anos no Brasil (março de 2022

A Soil Association está pedindo que os supermercados do Reino Unido ‘limpem‘ suas cadeias de suprimentos, alinhando algumas propostas/soluções a serem adotadas pelo governo para resolver esse problema. Eles também estão pedindo que o público britânico se envolva e assine a petição.

https://act.soilassociation.org/stop-poison-poultry?utm_source=soil_website&utm_medium=website&utm_campaign=stop_poison_poultry&utm_content=campaign_page#

Estamos vivendo tempos desafiadores e muitas vezes é fácil esquecer o quanto estamos todos conectados e o quanto influenciamos a vida uns dos outros e o mundo.

Nossas ações como consumidores têm um forte impacto direto não apenas em nossa saúde, mas também na saúde das pessoas que vivem a cerca de 8.500 quilômetros de distância, no Brasil, bem como na vida selvagem e no meio ambiente.  Cabe a nós nos envolvermos e fazer mudanças positivas em todas as criaturas vivas e em nosso planeta!

Relatório completo da Soil Association pode ser lido aqui:

https://www.soilassociation.org/media/23919/stop-poison-poultry-report-final-220222.pdf

Monica Piccinini – Jornalista Ciência Ambiental em Londres

Um comentário

  1. […] O enfraquecimento dos padrões de pesticidas por meio de acordos comerciais com países onde a regulamentação de pesticidas é menos rigorosa, como Austrália, Brasil, Índia, México e Estados Unidos, significa que a população do Reino Unido poderá estar consumindo produtos com alto nível de pesticidas que já são proibidos no país . O Reino Unido deveria proibir a importação de alimentos produzidos com pesticidas proibidos. […]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.